quinta-feira, 11 de junho de 2015

Olá,

Faz bastante tempo que não posto aqui, e a notícia que trago agora é triste. Pipa foi sacrificada no dia 25 de abril de 2015. E agora explico a vocês o que aconteceu.

Em primeiro lugar, queria agradecer a todos que acompanharam o blog e torceram por sua melhora, e em segundo lugar, queria pedir desculpas pela demora em trazer esse post pra vocês.

Quem vem acompanhando o blog sabe que logo após o tratamento as mudanças foram claras. Ela estava mais esperta e mais alegre, as lesões da orelha e do dorso haviam sumido e não havia sinal do parasita no resultado do último exame. A combinação dos resultados visíveis com aqueles que eram invisíveis trouxeram certa segurança e tranquilidade. O medicamento havia funcionado e cumprido o que prometia.

Mas, infelizmente, os bons resultados não se mantiveram por muito tempo. Pouco tempo depois do exame, Pipa entrou no cio. Sabe-se que durante o cio a imunidade das fêmeas pode baixar e, durante esse tempo, ela começou a apresentar uma acentuada queda de pêlos.  Ao levá-la ao veterinário, o mesmo sugeriu que aquilo poderia ser consequência disso ou uma possível alergia alimentar, sem descartar, no entanto, a possibilidade da relação daquilo com a leishmaniose. Entretanto, optei por fazer um tratamento baseado numa dieta apropriada para cães de pele sensível com a ração da marca Cibau e vitaminas do tipo Ômega 3 para eliminar a possibilidade de alergia.

Mas os sinais de melhora não chegaram. A essa altura, Pipa já havia perdido 4kg. Estava muito apática e se recusava a comer, dificultando o tratamento da dieta. Unhas grandes também já se faziam presentes há algum tempo. Novamente no veterinário, desconfiamos da possibilidade de doença do carrapato, pois todos os seus sintomas condiziam com a mesma. Foi feito um hemograma e ela foi diagnosticada com um quadro de anemia e plaquetas muito baixas. O negativo para a doença do carrapato abria um leque de possibilidades, e partimos para o mielograma, que por ser um exame mais completo, forneceria um resultado mais preciso. Além das extrações tradicionais que consistiam em raspado de pele, punção aspirativa da medula óssea e punção aspirativa do linfonodo, para o mielograma extraiu-se também sangue da unha para um diagnóstico mais exato, pois sabe-se que a Leishmania sp. tem preferência pelas extremidades corporais.

Inicialmente, quando a doença foi descoberta, o resultado do exame apontava uma baixa parasitemia, pois o parasita foi encontrado somente nos raspados de pele da orelha. O resultado do exame agora, no entanto, apresentava-se muito pior. Haviam parasitas causadores da leishmaniose em TODAS as amostras. Medula, linfonodo, raspado de pele e sangue da unha estavam infestados.

Além da alta parasitemia, o exame também apontou um quadro de hipoplasia medular, que origina-se quando há dificuldade do organismo de produzir células sanguíneas, causando anemia e plaquetas baixas (o que justificava os resultados dos exames sanguíneos), assim como um estado de imunodeficiência devido ao fato do organismo não conseguir produzir glóbulos brancos (leucócitos), que são responsáveis pela proteção do organismo contra patógenos, organismos causadores de doenças, utilizando para isso a produção de anticorpos. Lembrando que a Leishmaniose é uma doença imunossupressora que aliada à hipoplasia medular, torna as defesas naturais do organismo ainda mais fracas.

Pipa, então, estava com anemia, plaquetas baixas, hipoplasia medular e leishmaniose. Nos seus últimos dias, precisava tomar cinco medicamentos durante o dia, sendo um deles para estimular o apetite, pois de outro modo não comia. O tratamento para a hipoplasia medular envolveria um transplante de medula óssea compatível, que é algo bastante complicado, pelo menos aqui no nosso país. Ou um tratamento baseado no uso de um coquetel de medicamentos, contendo entre eles um corticóide, que acabaria enfraquecendo ainda mais o sistema imune, favorecendo assim a proliferação do parasita.

Para tratar a Leishmaniose seria necessário um fortalecimento do seu sistema imunológico - já bastante enfraquecido - e, em seguida, uma nova aplicação do Milteforan.

No fim de sua vida ela quase não brincava, não comia e necessitava de vários medicamentos para “continuar viva”, por assim dizer. Pipa estava sofrendo, assim como eu. Acredito que a eutanásia é algo passível de análises muito subjetivas. Sempre existirão visões divergentes e é preciso respeitar a decisão de cada proprietário. No caso da minha Pipa, foi uma decisão difícil e dolorosa, mas me parecia o melhor a se fazer.

O tratamento para Leishmaniose canina com o Milteforan é viável?
Na minha opinião, sim. O medicamento funciona e os sinais de melhora são visíveis. Entretanto, não se sabe o quão agressivo o medicamento pode ser. No caso de Pipa, não se sabe se a hipoplasia medular era congênita (adquirida antes do nascimento), se originou-se do uso do medicamento ou se foi apenas uma consequência da própria doença. Como eu não possuía o histórico dos pais dela, um diagnóstico preciso era impossível.

Tratar ou não tratar o cão?
Um cão é loteria, como já ouvi dizer. A resposta ao tratamento varia de animal para animal. (Tenho uma grande desconfiança, partilhada também pelo veterinário, de que Pipa já chegou em minha casa doente. Se isso realmente tiver acontecido, talvez tenha se tornado um fator determinante para não obtermos o resultado positivo esperado.) Mesmo optando pelo sacrifício, sou a favor da vida. E a favor das segundas chances. Mesmo sem ter certeza de que o seu cão responderá bem ao tratamento, dê a ele essa chance. Converse com o seu veterinário, verifique a possível necessidade de um fortalecimento da imunidade antes de iniciar o uso de um medicamento agressivo como o Milteforan.

Quando optar pelo sacrifício?
Se vai sacrificar ou não o seu cão, é uma decisão exclusivamente sua. Há vários relatos de cães que levam uma vida normal, mesmo tendo a doença. O fato de um cão estar infectado não significa, necessariamente, que pode transmitir a doença para outros cães e humanos. O controle da doença existe!

Para finalizar, queria dizer que os posts tornaram-se menos frequentes, assim como eu disse que aconteceria. Agora que já não tenho o convívio com a doença, não poderei mais partilhar informações, mas, o blog permanecerá aqui. Talvez com mais alguns posts futuros, talvez não.

Mais uma vez, obrigada por terem acompanhado e torcido pela minha Pipa. Espero que o blog continue ajudando aqueles que se encontram na mesma situação.

Pipa não está mais aqui, mas o espaço conquistado e o amor cativado sempre estará! 


"As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão."



Contato: meutempodepipa@gmail.com